Artigo: De que saúde “mental” estamos falando na contemporaneidade? Onde foi escondido o contexto existencial? Uma reflexão a partir do livro da psiquiatra Samah Jabr

Dom, 06/07/2025 - 19:24

“Sumud em tempos de genocidio”, da psiquiatra Samah Jabr, é um livro difícil de ler. O texto é bem escrito e de fácil compreensão. Seu conteúdo é “indigesto”.

Como  vemos na capa, sobre o título: “Samud - Termo usado pelos palestinos desde a época que desafiavam o domínio do mandato britânico (entre 1920 e 1948), expressa um estilo de vida voltado à resistência”.

A Palestina passou do domínio do Império Turco Otomano, que durou quatrocentos anos, para a dominação do Mandato Britânico (França e Inglaterra “fatiaram” a região do Levante no Sudeste Asiático, denominado pelos colonizadores, a partir do seu ponto de vista, de Oriente Médio- Líbano, Síria, Palestina). 

Desde que os sionistas chegaram da Europa, armados, e expulsaram os palestinos de suas casas, à base do terror, em 1948, denominado pelos palestinos de “Nakba”, cujo significado é catástrofe, (bem retratada no filme de Elia Suleiman, “O tempo que resta”), os expulsos, mais de dois milhões, tem como símbolo de sua resistência, de Samud, uma chave. A chave da casa que lhes foi roubada, roubo que vem sendo repetido há oitenta anos, como mostra o filme da cineasta britânica, descendente de palestinos, Farah Nabulsi, “O professor”, exibido na abertura da Mostra Mundo Árabe de Cinema, em 2024. E como, claro, temos visto no massacre sem precedentes no século XXI que o Regime Sionista tem perpetrado na Palestina ocupada, com assassinato de civis, incluindo crianças e bebês, médicos e mais de duzentos jornalistas.

O livro relata uma condição de extrema desumanização vivida por seres humanos causada não por nenhuma calamidade da natureza, mas por ações deliberadas de outros seres humanos e, como já afirmei em texto anterior neste portal[1] e na minha pesquisa na Universidade de Lisboa[2], não há como desumanizar alguém sem se desumanizar, simultaneamente.

No livro, acompanhamos a desumanização dos pacientes da Dra. Samah e, ao mesmo tempo, a desumanização daqueles que desumanizam tais pacientes. Todos nós vimos israelitas zombando dos palestinos por eles massacrados, em vídeos nas redes sociais. Nesses vídeos, zombaram da falta de água, zombaram do bombardeio, usando maquiagem para simular efeitos das bombas na pele, vimos soldados baterem às portas de casas que eram escombros, colocarem lingerie de mulheres palestinas mortas por eles em cima de seus uniformes militares e vimos homens e mulheres do exercito dançaram em cima da terra arrasada. Alguns vídeos eram tão chocantes que foram retirados. Num dele, um judeu sionista brasileiro, membro do exercito de ocupação da Palestina, filma o bombardeio enquanto diz em português à namorada “nenhum cara vai explodir Gaza para você, como eu”[3].  É difícil imaginar em qual grau de desumanização um ser humano chegou para ser capaz de tais comportamentos.

Jabr relata com uma clareza impressionante o quanto os diagnósticos e manuais diagnósticos criados e utilizados pelos ocidentais não servem para quase nada no contexto de destruição financiada por esses mesmos ocidentais. A Dra. Samah fez medicina e sua formação em psiquiatria na França, um país ocidental, até hoje imperialista/colonialista, membro do bloco imperialista que forma a OTAN. Claro, atendeu pacientes em França e depois foi desenvolver sua atividade profissional na Palestina ocupada pelo sionismo, que, desde o início, como nos demonstra fartamente, em mais de uma obra, o historiador Ilan Pappé, professor da Universidade de Exeter, tem como premissa a limpeza étnica palestina[4]. Bem como o domínio do Líbano e da Síria. As Colinas de Golã, na Síria, já foram ocupadas, causando situações absurdas, como vemos no filme “A noiva síria", dirigido pelo israelene Eran Riklis, que retrata bem a insanidade resultante do roubo de terras, da colonização e de um regime autoritário militarizado, de apartheid. 

A autora nos mostra como o Transtorno de Estresse Pós Traumático (TEPT), F 43.1 na Classificação Internacional das Doenças (CID), que no âmbito da saúde “mental” está na sua décima primeira edição, é uma classificação feita para os ocidentais, com foco nas dificuldades ocidentais de quem vai e volta de uma guerra, de quem sai do seu território para atacar e guerrear em outro território e volta para sua casa. Na Palestina não há “pós”, o transtorno de estresse é geracional. São gerações inteiras, há oitenta anos, sendo expulsas de suas casas, sendo presas ilegalmente, sendo humilhadas diariamente pelo invasor-colonizador. Vivendo em campos de refugiados na sua própria terra, por terem sido expulsas de suas casas e cidades.

Os manuais de descrição dos “transtornos” tem o mérito de facilitar a comunicação entre profissionais de saúde, mas em termos de saúde mental podem ser um complicador no sentido de reduzir a experiência existencial e estreitar o nosso olhar, tanto como profissionais do campo da psicopatologia, psiquiatria e psicologia, como enquanto sociedade. Quando digo sociedade estou falando do planeta Terra. Como diz Peixoto (2019)[5], o erro da Sociologia foi considerar a sociedade e, consequentemente, campo de estudo, os países (estados-nação)  e não o Globo Terrestre. 

Acho o termo transtorno aceitável se o critério for o sofrimento de um determinado ser humano e não um determinado conceito de anormalidade, o que pressupõe existir uma normalidade. Caso existisse uma normalidade, seria sempre situada e determinada histórica e culturalmente.

Precisaríamos verificar se determinado sofrimento se manifesta em determinada pessoa em diferentes contextos, porque muitos sofrimentos, são uma reação legítima contra determinados contextos (familiares, sociais, laborais), contextos transtornados, que dificultam o bem-estar do indivíduo. Ao invés de se pensar numa mudança sistêmica, parece mais fácil, muitas vezes, focar no indivíduo, patologizar seu sofrimento e sua dor existencial  e, a seguir, medicalizar, como se os matizes existenciais fossem patológicos. Esta é a cartilha Neoliberal, tudo passa a ser uma empresa que deve “funcionar”, dar lucro! Estado, indivíduo e relações devem ser uma empresa, devem “funcionar” uma palavra que serve para máquinas, já que o ser humano deve existir.

No sentido de ampliar o olhar, sob a ótica da perspectiva Fenomenológica-Existencial Hermenêutica, a Fenomenologia Heideggeriana, prefiro usar o termo “Saúde Existencial”, como venho me referindo em artigos no meu blog[6]. Olhar para nosso existir, como história em aberto. Um ser que tem um cérebro com plasticidade, que é corpo, afetividade e contexto, todos esses componentes em permanente transformação

Enxergar o ser humano com sua características próprias, sem buscarmos encontrar no ser humano uma máquina funcional, amplia nosso olhar e nos faz mais perguntar, a fim de desvelar e aproximar uma compreensão possível, delimitada e temporal, do que responder com um código classificatório. Essa forma de conduta investigativa, menos responsiva, nos ajuda a olhar as situações com mais honestidade, na busca de soluções mais originais e contextualizadas para os sofrimentos humanos.

O livro da Dra. Jabr está dividido em seis partes, sem contar prefácio, introdução e conclusão. Vou fazer duas  citações para exemplificar ao leitor deste artigo o que estou querendo dizer com “difícil de ler”.

“A culpa de sobreviver é outro elemento agravante na recuperação de um paciente. Tratei um menino adolescente que tentou suicidio diversas vezes após o assassinato de seu primo. Mais tarde, descobri que esse menino tinha encorajado o primo a participar de manifestações, e numa delas ele foi baleado e morto.” (p. 32).

“Fátima passou vários anos procurando um médico por causa de uma combinação de dores fortes de cabeça, dores no estômago, dores nas articulações e vários problemas dermatológicos. Não havia evidência de qualquer causa fisiológica. Finalmente, Fátima compareceu à nossa clínica psiquiátrica e contou que todos os sintomas começaram depois que ela viu o crânio de seu filho, assassinado, aberto na escada de sua casa durante a invasão israelense no vilarejo de Beit Rima, onde morava, em 24 de outubro de 2024.” (p. 44)

Validar a experiência existencial concreta dos pacientes é fundamental em qualquer atendimento que se pretenda sério e presente no universo de cada paciente. Cito a autora:

“Os profissionais de saúde mental podem focar em samud, firmeza, solidariedade, reparação, resistência, responsabilização, narração de histórias e cura comunitária, contribuindo para abordar o trauma coletivo para além das definições clínicas. Tais esforços visam reconstruir o tecido social, validar experiências e promover resiliência”.

O sionismo é uma doutrina racial dentro do Judaísmo. Judaísmo e sionismo não podem ser confundidos, como querem os sionistas. Por isso, há inúmeros judeus integracionistas mundo afora, antissionistas, dizendo “não em meu nome” e “nunca mais a nenhum povo” às práticas violentíssimas do sionismo.

Limpeza étnica significa não só matar as pessoas, significa matar sua cultura, suas manifestações religiosas (islâmicos e cristãos), significa destruir suas universidades, hospitais, escolas, como temos visto diariamente. Todos nós sabemos que as situações que abalam nossas identidades, como mortes, separações, golpes de estado, guerras, mexem profundamente com nosso existir e resistir. Imagine viver sob o colonialismo por um tempo que não finda, viver desalojado na própria terra? A autora esclarece:

“Este é objetivo estratégico dos israelenses para os palestinos que vivem sob ocupação: objetificá-los e explorá-los como animais de quatro patas, olhando para o chão, sem ousar defender seus direitos. “Árabe bom é árabe morto” é um slogan repetido com frequência pelos israelenses e expressa os sentimentos que a maioria deles tem pelos palestinos.” (p. 75).

Tal qual como quando assistimos o genial filme “Kafarnaum”, dirigido por Nadine Labaki, no qual um menino da periferia do Líbano processa seus pais por ter nascido, não conseguimos deixar de pensar que o filme poderia se passar em periferias de qualquer cidade do mundo, porque aborda a vida da periferia do mundo, ao lermos o livro de Jabr não há como não pensar nas práticas Necropolíticas da história do colonialismo, mesmo que ainda não tivessem esse nome, nem deixar de pensar que essa desumanização e massacre físico-cultural-religioso é o que acontece muitas vezes no Brasil, território onde indígenas são perseguidos, onde crianças pretas morrem pela bala do Estado, Estado que foi criado e existe para proteger os cidadãos. Essas crianças morrem, pela bala do Estado, dentro de casa, indo pra escola ou dançando numa festa junina, sem que o país pare.

“Sumud em tempo de genocídio” é uma obra composta por textos escritos ao longo de duas décadas, antes de outubro de 2023, e publicados em diferentes periódicos e livros, reunidos agora nesse livro imperdível, mesmo que vivamos tempos tão violentos que muitos de nós sentem “Fadiga de compaixão” e não querem se inteirar das tragédias provocadas por humanos desumanizados. É um livro contundente que todo profissional da área psi deveria ler e também deveria lê-lo toda pessoa interessada em conhecer até onde a desumanidade e a resistência humanas podem chegar.

No prefácio Izabel Hazin, bisneta de palestinos e professora titular do departamento de psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, diz: “A dra. Samah exerce seu ativismo pela escrita; seu objetivo é gerar conhecimento sobre a saúde mental dos palestinos e compartilhá-lo com o mundo.”

A escrita e a divulgação da escrita é uma forma de manter vivo tudo que tentam matar. O testemunho constrange as mentiras.

Os pacientes da Dra. Jabr tem identidade, histórias, famílias, idades, ancestralidade, etnia, sonhos, Talvez, esse seja um dos pontos principais do livro e que mais o contrapõe ao discurso oficial do Ocidente, mesmo do Ocidente situado no Sul Global, como o Brasil. No Ocidente, os palestinos são vendidos como uma massa humana com potencial terrorista. Divulgam-se o número de mortos, nunca seus nomes, seus rostos, suas histórias, seus afetos, seus sonhos. É a desumanização explicita. Esta é a premissa da Necropolítica. Antes de massacrar “como nunca”, como anunciou o premier do Regime Sinonista, em outubro de 2023 (já que o massacre vem de longe), é preciso desumanizar. 

Os palestinos sofrem prisões ilegais, fartamente denunciadas por entidades internacionais defensoras dos Direitos Humanos, como a Human Right Watch[7], humilhações diárias nos inúmeros postos de comando que dificultam a chegadas às escolas, ao trabalho, o ir e vir, assassinatos a queima roupa na presença de familiares, brutalização de crianças e adolescentes, um cotidiano violento provocado pela colonização. Os palestinos vivem sob lei marcial, não podem ter cidadania, enquanto qualquer judeu, nascido em qualquer parte do mundo, tem direito à cidadania israelense. Lei civil para judeus, nascidos em qualquer lugar, lei marcial para palestinos, autóctones. Israel é um Estado racial e teocrático. 

A famosa história de Ahed Tamimi, a palestina que une resistência ao colonialismo com feminismo e enfrenta os soldados israelense (o Regime Sionista é um regime militarizado),  desde os 11 anos, é um exemplo de uma vida roubada desde a infância. Ela já foi presa duas vezes, a primeira aos 16 anos, no entanto, está viva.

O que Jabr descreve é uma vida impossível. É difícil entender como as pessoas continuam, como a própria Jabr continua. Ela atende um número enorme de pacientes, porque, como podemos (ou não) imaginar num ambiente insalubre como o ambiente da opressão colonial as demandas são gigantescas.

Não é possível diagnosticar sem conhecer o contexto e o tempo histórico. Um diagnóstico que considera apenas a dimensão individual e esta dimensão como em si mesma é um diagnóstico falho. Quando o diagnóstico é falho o atendimento, o acompanhamento psicoterápico é descolado do mundo do paciente e essa situação não é terapêutica o suficiente, ao contrário, é alienante o suficiente, para os dois que estão em jogo, paciente e terapeuta. E, mais, coloca sobre os ombros de cada indivíduo um peso que deve ser carregado coletivamente, assim como a solução deve ser coletiva. 

Depois de Frantz Fanon, citado por Jabr no livro, que inclui os sofrimentos oriundos de viver sob colonialismo na dita Saúde Mental, Jabr se torna uma autora obrigatória para quem pretende entender o sofrimento emocional sem etnocentrismos e, muitas vezes, causado pelo etnocentrismo.

Não sou contra a existência da Classificação Internacional de Doenças  (CID) para Saúde Mental. Acho importante a sua existência para a comunicação entre os profissionais do mundo e para ser um ponto de partida de discussões com vistas a compreendermos melhor a condição humana e não para adequá-la para parecer mais com uma máquina, que “funcione” bem e em série. 

Sou contrária, sim,  ao colonialismo, de qualquer ordem, e contra a descontextualização diagnóstica. 

Esta classificação (CID) existe para todas as doenças (físicas) e tem um livro à parte para Saúde Mental ou para os Transtornos Mentais. A CID  é realizada pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Mais de trezentos especialistas de cinquenta e cinco países participam da elaboração da Classificação e de suas periódicas revisões (estamos no CID-11, lançado em em 2022 e sua implementação será até 2027, até lá é válido o CID-10). Além dos trezentos especialistas, mais mil especialistas e acadêmicos podem opinar sobre a classificação. Os acadêmicos palestinos podem entrar apenas nesse segundo grupo, porque a Palestina não é um estado-membro da ONU, tem o status de estado-observador.

Não consigo sequer imaginar o que é atuar como profissional de saúde nessa condição e muito menos o que é viver nessa condição. O filme de abertura da Mostra Mundo Árabe de Cinema, de 2024, já mencionado, o excelente “O Professor” (The teacher), mostra a realidade cotidiana dos palestinos, o filme, embora não seja, parece um documentário. E uma das falas do professor, deixa claro do que se trata. Para os judeus sionistas, uma vida judaica vale mais que muitas vidas palestinas ou árabes

Nesse momento, depois de mais de um ano de um massacre impiedoso, todos já sabem (ou deveriam saber) qual a realidade dos palestinos sob ocupação e sabem (ou deveriam saber) qual o  propósito da doutrina sionista, regime que criou e mantém Israel e pretende abarcar outros países, como já mencionado. O Líbano, por exemplo, já foi atacado ano passado, com uma nova tecnologia que atingiu os celulares de civis. São ações terroristas e ilegais, como o uso de fósforo branco, o uso da fome como arma de guerra, entre outras práticas que não podem receber outro nome que não “atrocidades” próprias da Necropolítica. No artigo que escrevi para este portal, em agosto de 2024, já mencionado, alertei que o que acontecia na Palestina ocupada pelas mãos dos sionistas deveria ser preocupação de todos, porque as práticas do regime sionista são fonte das práticas da extrema direita mundial contemporânea e essa extrema direita avança no mundo todo. Na minha pesquisa na Universidade de Lisboa, alertei que deixar projetos políticos fascistas avançarem, e concorrerem no interior do sistema democrático, é um perigo para a Saúde Pública, a nível mundial. Minha pesquisa foi concluída em setembro de 2024, mas esta mais atual do que nunca, infelizmente.

Todos também deveriam saber que o Direito Internacional garante o direito de resistência aos ocupados. Nenhum povo é obrigado a entregar suas terras e sua vida pacificamente. Ocorre que nos Acordos de Oslo, firmados entre 1995 e 1998, ficou definido que a Organizaçao para a Libertação da Palestina (OLP) abandonaria a resistência armada e que o Regime Sionista do Estado Colonial de Israel respeitaria, pelo menos, as fronteiras determinadas em 1967, o que não ocorreu. Israel continuou a invadir terras ilegalmente, com toda a violência, destruindo casas e vidas. Surgiram então outros grupos de resistência armada, como Hamas, que não são reconhecidos pela ONU como terroristas, justamente porque todo povo invadido tem o direito de se defender. A Palestina não possui Exército, porque não é um Estado-Nação. Para enfrentar o Exército de ocupação do Regime Sionista depende da organização de grupos de civis.

Os países do norte global, da OTAN, os tradicionais colonialistas, que construíram seus países, a base de sangue derramado em outros territórios, apoiam o regime sionista, exceto a Espanha. Enquanto todos esses países assinam na ONU, os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, que deveriam promover Justiça, Paz, Saúde Mental, promovem a destruição de territórios, deslocamentos forçados e mortes.

O etnocentrismo ocidentalocentrico, diz dar-nos dar um “norte” (por que não um sul, uma direção, como vem questionando os geografos?) também na predominância da construção dos manuais de Saúde Mental. O CID é um manual classificatório mais respeitável, já o DSM, produzido nos EUA, tem mais forte a conotação política[8] em suas classificações. Há, por exemplo, inúmeros estudos que mostram como os agrotóxicos são prejudiciais à Saúde Mental e como os produtores de agrotóxicos são as mesmas empresas que produzem os remédios psiquiátricos, criando um dominó de sistemas de vida adoecedores, patologização dos problemas existenciais de forma individualizada, e não de forma a rever o sistema de vida adoecedor, e posterior medicalização do que foi patologizado[9].

Para finalizar, gostaria de incluir uma citação, que acredito será familiar para qualquer ocidental que já se informou pela mídia corporativa dominante. E que é vergonhosa, considerando que todo povo ocupado tem direito a resistência armada pelas Leis Internacionais[10], considerando ainda que, como dissemos, a Organização para Libertação da Palestina (OLP) aceitou abrir mão da resistência armada nos Acordos de Oslo, nunca cumpridos por Israel, o que favoreceu a criação de outros grupos armados, dentre eles o Hamas.

“Quando nós, palestinos, lutamos por nossos direitos, somos chamados de terroristas. Quando nos manifestamos de forma não violenta e somos mortos pelas forças de ocupação, somos chamados de suicidas.” (p. 51).

 

[1] Artigo: Mostra Mundo Árabe e reflexões sobre a Palestina

[2] https://repositorio.ulisboa.pt/handle/10400.5/98745

[3]http://iclnoticias.com.br e @geopol.pt (conta do X)

[4] A limpeza ética Palestina e Dez Mitos Sobre Israel

[5] scielo.br/j/remhu/a/P5ZMqp36bsc4Hy7nZP6Fr4s/?format=pdf&lang=pt

[6] cristianejatene.blogspot.com

[7] https://www.hrw.org/pt/news/2021/04/27/378578

[8] https://www.nytimes.com/2025/06/23/opinion/why-autism-rates-increased.html

[9] scielo.br/j/sdeb/a/ZYvytXHnPZf5gCbJ8v7hpLG/?format=pdf&lang=pt

[10] Carta-ONU.pdf

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Cristiane Donato Jatene

Mestre em Sociedade, Risco e Saúde (Univ. de Lisboa)

Psicóloga licenciada no Brasil e em Portugal

Membro Efectivo da Ordem dos Psicólogos Portugueses

Terapeuta Certificada Europsy

Especialista em Terapia de Casal, Família e Comunidade (PUCSP)

Terapeuta Daseinsanalista com formação, na ABD, reconhecida pela European Association of Psychotherapy 

Criadora e coordenadora das “Oficinas Autobiográficas com o Baralho de Palavras”.

Historiadora (PUCSP)